Após mais de dois meses sob um manto de fumaça, o céu de Porto Velho finalmente voltou a exibir seu azul característico. Ventos fortes que passaram pela cidade na noite de quinta-feira (19) dissiparam a densa camada de fumaça resultante das queimadas, proporcionando à população uma visão clara do céu pela primeira vez em semanas.
Desde o final de julho, a capital de Rondônia enfrentou uma situação crítica de poluição atmosférica. De acordo com o meteorologista Luiz Alves, a melhoria na qualidade do ar e na visibilidade deve às rajadas de vento associadas à formação de nuvens de tempestade que se deslocaram do sudeste do Amazonas para o norte de Rondônia.
Embora Porto Velho não tenha chuvas registradas, outras regiões do estado experimentaram precipitações, trovoadas e ventos intensos. A poluição causada pelas queimadas transformou a paisagem local, tornando o ar insalubre e perigoso, com a cidade liderando os piores índices de qualidade do ar no Brasil.
Apesar do rompimento momentâneo, a situação permanece preocupante. Segundo a plataforma suíça IQAir, a qualidade do ar em Porto Velho ainda é considerada insalubre para grupos sensíveis. Em agosto, uma fumaça abalou o cancelamento de mais de 40 voos, obrigando os passageiros a buscar alternativas como viagens de ônibus para outros estados.
A população de Porto Velho celebra a visão do céu azul, uma aparência simples que se tornou rara. “Acordei e fiquei admirado com o contraste do azul do céu e das nuvens, que por tanto tempo foram elevados por uma névoa inquietante”, relatou Lucas Lopes, um morador local.
Entretanto, as queimadas em Rondônia continuam a bater recordes. Nas duas primeiras semanas de setembro, o número de focos de incêndio foi três vezes maior do que o registrado nos seis primeiros meses de 2024. O estado contabilizou 8.462 focos de incêndio até 19 de setembro, a maior quantidade em cinco anos, segundo o Inpe .
O impacto das queimadas é devastador. O Parque Guajará-Mirim, uma das maiores unidades de conservação do estado, está em chamas há mais de dois meses, com 107 mil hectares queimados. A Estação Ecológica Soldado da Borracha também sofre com incêndios, com 163 mil hectares destruídos.
A fumaça alterou drasticamente as paisagens de Rondônia, tornando raras as vistas do pôr do sol sobre o rio Madeira. A população espera que o céu azul seja um prenúncio de melhorias, mas a luta contra as queimadas e seus efeitos continuam.